sábado, 17 de abril de 2010

"Besouro" desafia o Cinema Brasileiro, mas esbarra em fracas atuações

Filme de estreia do diretor de pubicidade João Daniel Tikhomiroff (brasileiro mais premiado no Festival de Publicidade de Cannes, com 50 leões na conta), "Besouro" utiliza ação e drama para contar uma famosa lenda brasileira: A do capoeirista de corpo fechado que desafia os poderosos. Ele é Manoel Henrique Porteira, vivido até 1924. Consciente de sua condição de grande lutador, se preocupa em ajudar seu povo após a morte de Mestre Alípio, tutor de capoeira da região. No filme, passa de lenda para herói, enfrentando jagunços e o coronel local. Ao seu lado estão os Orixás, que lhe dão poderes - como voar e ter o "corpo fechado" - e a capoeira.
Ultimamente o cinema nacional tem se reservado apenas a alguns gêneros, como as comédias românticas, policiais e filmes que mostram a realidade das favelas. Faltava aquele filme de ação com cenas de luta de tirar o fôlego. Sabendo disto, João Daniel Tikhomiroff teve a audácia de tentar revolucionar a tão morna sétima arte no país tupiniquim. Para tal, chamou até o mesmo coreógrafo de filmes como "O Tigre e o Dragão" e "Kill Bill" conhecidos e reconhecidos por suas brlhantes sequências de pancadaria. Levando em consideração que este tipo de filmagem é nova por aqui, capoeiristas pendurados em cabos-de-aço são louváveis para um primeiro esforço. Temos muito o que melhorar, mas, para o início, serviu para mostrar que estamos no caminho certo.
Por tudo o que foi mostrado antes do lançamento, esperava-se muito mais do filme. Site legal, fotos realmente muito boas e um trailer com maravilhosas cenas de ação. Não é o que foi visto, fazendo de "Besouro" uma vítima de sua própria propaganda (ironia ter sido dirigido por um publicitário megacampeão). Para um filme de estreia no gênero das pancadarias fantasiosas, o filme é ótimo, mas todo o alarde feito entorno do longa acaba criando uma expectativa não correspondida. O que, infelizmente, conta muito como ponto negativo.
O que realmente estraga o primeiro trabalho de Tikhomiroff são as péssimas atuações. Por ser muito centrado na capoeira, o diretor resolveu transformar capoeiristas em atores e não vice-versa. Acertou, pois o tempo era curto para transformar um novato no melhor de todos os tempos nessa dança. E atuações também não é todo mundo que nota. Exceto pelo protagonista Aílton Carmo, que deve dedicar-se mesmo ao que tem de melhor: A ginga na capoeira. Já aqueles sem malemolência salvam aqueles que são sofríveis atuando e ótimos dançando; Irandhir Santos está ótimo como o nojento Noca de Antônia e Flavio Rocha convence como o cínico Coronel Venâncio. Cada um com seu talento e o cinema e a capoeira seguem seus rumos no Brasil.

Besouro traz grandes qualidade plásticas, como uma exuberante fotografia que conpensam atuações inevitavelmente sofríveis. Para um primeiro suspiro no gênero das pancadarias fantasiosas, o Brasil mostra que tem futuro. Ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo nosso cinema para chegarmos perto dos orientais e estadunidenses, mas a gente pode chegar lá. Besouro é apenas um pontapé inicial. E um pé direito.

Ficha Técnica
Direção: João Daniel Tikhomiroff
Roteiro: Patrícia Andrade, João Daniel Tikhomiroff
Produção: Vicente Amorim, Fernando Souza Dias, João Daniel Tikhomiroff
Distribuidora: Buena Vista
Fotografia: Enrique Chediak
Elenco: Aílton Carmo, Anderson Santos de Jesus, Jessica Barbosa, Flavio Rocha, Irandhir Santos, Macalé, Leno Sacramento, Chris Vianna, Sérgio Laurentino, Adriana Alves, Miguel Lunardi


Nota: 7,3

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