Filme de estreia do diretor de pubicidade João Daniel Tikhomiroff (brasileiro mais premiado no Festival de Publicidade de Cannes, com 50 leões na conta), "Besouro" utiliza ação e drama para contar uma famosa lenda brasileira: A do capoeirista de corpo fechado que desafia os poderosos. Ele é Manoel Henrique Porteira, vivido até 1924. Consciente de sua condição de grande lutador, se preocupa em ajudar seu povo após a morte de Mestre Alípio, tutor de capoeira da região. No filme, passa de lenda para herói, enfrentando jagunços e o coronel local. Ao seu lado estão os Orixás, que lhe dão poderes - como voar e ter o "corpo fechado" - e a capoeira.
Ultimamente o cinema nacional tem se reservado apenas a alguns gêneros, como as comédias românticas, policiais e filmes que mostram a realidade das favelas. Faltava aquele filme de ação com cenas de luta de tirar o fôlego. Sabendo disto, João Daniel Tikhomiroff teve a audácia de tentar revolucionar a tão morna sétima arte no país tupiniquim. Para tal, chamou até o mesmo coreógrafo de filmes como "O Tigre e o Dragão" e "Kill Bill" conhecidos e reconhecidos por suas brlhantes sequências de pancadaria. Levando em consideração que este tipo de filmagem é nova por aqui, capoeiristas pendurados em cabos-de-aço são louváveis para um primeiro esforço. Temos muito o que melhorar, mas, para o início, serviu para mostrar que estamos no caminho certo.
Por tudo o que foi mostrado antes do lançamento, esperava-se muito mais do filme. Site legal, fotos realmente muito boas e um trailer com maravilhosas cenas de ação. Não é o que foi visto, fazendo de "Besouro" uma vítima de sua própria propaganda (ironia ter sido dirigido por um publicitário megacampeão). Para um filme de estreia no gênero das pancadarias fantasiosas, o filme é ótimo, mas todo o alarde feito entorno do longa acaba criando uma expectativa não correspondida. O que, infelizmente, conta muito como ponto negativo.
O que realmente estraga o primeiro trabalho de Tikhomiroff são as péssimas atuações. Por ser muito centrado na capoeira, o diretor resolveu transformar capoeiristas em atores e não vice-versa. Acertou, pois o tempo era curto para transformar um novato no melhor de todos os tempos nessa dança. E atuações também não é todo mundo que nota. Exceto pelo protagonista Aílton Carmo, que deve dedicar-se mesmo ao que tem de melhor: A ginga na capoeira. Já aqueles sem malemolência salvam aqueles que são sofríveis atuando e ótimos dançando; Irandhir Santos está ótimo como o nojento Noca de Antônia e Flavio Rocha convence como o cínico Coronel Venâncio. Cada um com seu talento e o cinema e a capoeira seguem seus rumos no Brasil.
Besouro traz grandes qualidade plásticas, como uma exuberante fotografia que conpensam atuações inevitavelmente sofríveis. Para um primeiro suspiro no gênero das pancadarias fantasiosas, o Brasil mostra que tem futuro. Ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo nosso cinema para chegarmos perto dos orientais e estadunidenses, mas a gente pode chegar lá. Besouro é apenas um pontapé inicial. E um pé direito.
Ficha Técnica
Direção: João Daniel Tikhomiroff
Roteiro: Patrícia Andrade, João Daniel Tikhomiroff
Produção: Vicente Amorim, Fernando Souza Dias, João Daniel Tikhomiroff
Distribuidora: Buena Vista
Fotografia: Enrique Chediak
Elenco: Aílton Carmo, Anderson Santos de Jesus, Jessica Barbosa, Flavio Rocha, Irandhir Santos, Macalé, Leno Sacramento, Chris Vianna, Sérgio Laurentino, Adriana Alves, Miguel Lunardi
Nota: 7,3
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